A beleza em meio ao caos

A beleza em meio ao caos

Na cidade de dona Maria era Outono, tudo parecia rotineiro: buzinas, trânsito, o rangido dos ônibus cruzando a avenida. Primeiro veio a manchete sobre alagamentos; horas depois, o contador de desabrigados e mortos não parava de subir. Com um rastro de destruição pelo caminho surgem problemas como falta de energia elétrica, falta de água potável, cancelamento das aulas entre muitos outros. Em meio a todo esse caos, novas notícias: crimes sendo cometidos. Vandalismo, invasões e danos ao patrimônio. Ainda na primeira manhã, Lucas — estudante de jornalismo — improvisou um post em uma rede social e começou a incentivar pessoas a doarem alimentos e roupas. Horas depois, voluntários de todo o país enviaram alimentos, dinheiro e até colocaram a mão na massa para amparar desconhecidos em necessidade.

Vivemos atravessados por forças que mal compreendemos — sejam o acaso, o destino ou o próprio sistema. Às vezes operam em silêncio, outras, de forma escancarada. Mas quase sempre, nos deixam à deriva. Um dia, tudo parece seguir o curso habitual — ainda que injusto. No seguinte, mergulhamos em um cenário que mais parece ter saído de um filme apocalíptico — o caos, sem aviso, toma conta.

E é justamente aí, onde tudo parece ruir, que algo inesperado floresce: a beleza. Não aquela puramente estética, mas a que nasce de um gesto ou de uma coragem. Ela não anula a dor, nem impede a tragédia, mas nos lembra que ainda há algo por que vale continuar lutando. Seja na mãe que perdoa o algoz do próprio filho ou em desconhecidos, de lados opostos da trincheira ideológica, que trabalham juntos para socorrer vítimas de uma enchente. A beleza não está aí para vencer o caos. Eles não disputam espaço — ela floresce dentro dele.

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