A Anatomia da Dor – Dor que se repete na história

A Anatomia da Dor – Dor que se repete na história

A dor que se repete na história

Nós, humanos, começamos com ferramentas rudimentares, depois vieram as aldeias, as cidades, os reinos. A evolução não foi só técnica — foi também relacional. Quanto mais nos aproximamos, mais complexas se tornam as conexões. E aí vem o paradoxo: a mesma união que nos fortaleceu, também abriu espaço para a dor. Porque onde há vínculo, há ferida. Onde há afeto, há possibilidade de abandono. Onde há estrutura, há risco de dominação. Quando estruturas se repetem tempo demais, viram tradição. E tradições, às vezes, escondem abusos que aprendemos a chamar de ordem. É assim que o passado se infiltra no presente — sutil, quase invisível, mas profundamente enraizado.

Talvez por isso, às vezes, me pego pensando: E se fôssemos nós, lá — naquele tempo, naquela cultura? Teríamos feito diferente? Ou apenas repetido… com um sotaque diferente? Julgar o passado com os olhos de hoje é fácil. Difícil é encarar o presente com a honestidade que ele exige. A verdade é que não sei se a história se repete. Mas ela ecoa. Em formas diferentes, em cenários atualizados e com vozes novas — Algumas coisas parecem sempre voltar: a dor, a opressão. A dor muda de roupa, a opressão muda de nome — mas continuam ali. Não faz tanto tempo, pessoas eram escravizadas, tratadas como mercadoria. Hoje? O chicote não machuca como antes — mas ainda corta.

É o salário que não cobre o mercado.

É o bairro que determina a expectativa de vida.

É o sobrenome que abre portas — antes mesmo do primeiro choro.

E diante dessa repetição, nasce uma defesa: a indiferença. Talvez a anestesia não seja escolha, mas sobrevivência. Um mecanismo para não enlouquecer diante de um mundo que enlouquece.

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